Alpinista de Mutá

O início de tudo é uma conformação anti-caos. Queria dizer desse estado de coisas poéticas e poeirentas que vemos nas esquinas e seringais. Esse, do caos surgido, como resposta ao favor natural de conformar as falsas harmonias, pretende-se ao em espera do universo. Acredita poder surgir do conflito uma natureza e uma possibilidade de identidade (inda que arbitrária) que nos conduza a uma atitude de agressão ao espaço sedentário. É poesia isso. E inspira-nos Hélio Melo, autor da floresta, com sua representação do real. Conduz-nos o tempo e a sombra desse tempo, numa hora incerta a dar declarações sobre a pele do concreto e dos óbulos. Vamos caminhando, nos atrepando em árvores e rios, alpinistas de mutá, alcançado pouca coisa mais que a geometria curta dos dedos, mas sonhando extrair dali uma essência sublime para negociar a vida.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Aqui é o meu País!

Costuman dizer que o Brasil é um país com dimensões continentais... Pois é! Isto vale também para as idéias que nele circulam. Descobri um texto interessante na internet sobre uma das idéias que fazem daqui um lugar muito diferente do que temos visto por aí... bem mais parecido com o que queremos. Um caso de justiça a ser seguido e admirado!

* * *

DECISÃO

Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha , que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias. Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.

Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional),...
Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém.
Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário.
Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia,....
Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo?
Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade.
Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.
Simplesmente mandarei soltar os indiciados.
Quem quiser que escolha o motivo.
Expeçam-se os alvarás. Intimem-se.”
Voto pelo provimento do apelo, para absolver o apelante com fulcro no art. 386, VI do C.P.P.


Rafael Gonçalves de Paula,
Juiz de Direito (Decisão proferida nos autos nº 124/03 - 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas/TO)

terça-feira, 15 de julho de 2008

A uma moça sem dentes*

a Ocimar Leitão

Para onde foram os teus dentes de leite?

A fissura em teu peito me faz ver o destino do homem,

te conduziram a todos os lugares

em que eu não poderia ir.

E o segurança da festa

deixa-te entrar. Não é fascinante?

A moça desdentada chora em casa,

mal sabendo que é igual a todas as moças.

Rever o outdoor do Boticário,

um frêmito, vê as finanças,

é melhor não. Certo espectro vem-lhe noturnamente

e a faz sorrir com um riso negro.

A moça sem dentes tem seios bonitos

e o homem sem amor tem o sexo quente.

E eu que pensava que não existia mais poesia

vi um bebê azul nos braços da moça,

sem pai, mas feliz

mal sabendo que a vida é quimérica

e a sociedade é um organismo em decomposição.




*Do Deserto Provisório, livro no prelo, pro meio de agosto desse 2008, lançamento obscuro e limitado de poucos exemplares, anunciarei. O Manifesto da poesia acreana contempórânea...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

É proibido pensar!


É proibido pensar que o território quase livre do Acre está se tornando um lugar mais violento. Violentam o nosso direito de ver e de falar. Nos obrigam a 'balbuciar' coisas nos blogs por não podermos publicar nada oficialmente contrário, mesmo nos meios de comunicações declaradamente opositores. Podemos ouvir, mas não podemos enxergar com clareza. Podemos ouvir, mas não podemos falar sobre o que vemos, a não ser que alguém escreva o discurso para nós. A interpretação do que ouvimos é, mais do que sugerida, forçada. É proibido pensar, só é permitido repetir as fotos e fontes oficiais de quem paga para escrever a história, que cada vez mais se parece com estória.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Foco de Aftosa no Acre prejudica exportação de carne!

  • Essa é a notícia dos sonhos de todos os 'índios invisíveis' do território não livre do Acre hoje! Pode parecer terrorismo para alguns falar sobre isto num momento tão 'glorioso' do estado, quando finalmente conseguimos ganhar status de área livre para exportação e trazer 'benefícios' para o Acre.
  • O único problema com tudo isto é que eu/tu/eles não, temos de lidar com o preço do kilo da carne de primeira passando de pouco mais de R$8,00 para muito mais que R$20,00 e continuar ganhando a mesma coisa no final do mês.
  • Quem tem gado no pasto está rindo à toa. A arrouba subiu, em menos de dois meses, de R$40,00 para R$100,00, que era a estimativa para o final do ano. O que significa que para o final do ano... prepare-se! Enquanto isto, quem não tem gado no pasto, só sente parte da manada, fica olhando de longe o desenvolvimento dos latifundiários que tem conceções de desmatamento de áreas protegidas sob proposta de manejo, manejando nossa inteligência, exportando maneira na calada da noite, carne à luz do dia, política inteligente 24 horas por dia e deixando todos os demais sem noção de tempo presente ou futuro.
  • Tomara que a Aftosa apareça aqui! Assim, muda a minha vida pra melhor. O desenvolvimento - poder comer a carne que os estrangeiros comem - pode chegar de verdade à minha mesa. Não terei que ver mais os aumentos abusivos e saber que, como todos os outros assuntos do território quase livre do Acre, os assuntos que importam diretamente aos 'índios invisíveis' que acabamos nos tornando, não sejam discutidos apenas entre aqueles que mudam os nossos horários e depois vão embora morar em Brasília, onde o dinheiro permite que seja sempre dia, chegue tarde no trabalho, só trabalhe três vezes por semana e viaje todos os fins de semana para visitar os invisíveis!

    Com esperança!