Alpinista de Mutá

O início de tudo é uma conformação anti-caos. Queria dizer desse estado de coisas poéticas e poeirentas que vemos nas esquinas e seringais. Esse, do caos surgido, como resposta ao favor natural de conformar as falsas harmonias, pretende-se ao em espera do universo. Acredita poder surgir do conflito uma natureza e uma possibilidade de identidade (inda que arbitrária) que nos conduza a uma atitude de agressão ao espaço sedentário. É poesia isso. E inspira-nos Hélio Melo, autor da floresta, com sua representação do real. Conduz-nos o tempo e a sombra desse tempo, numa hora incerta a dar declarações sobre a pele do concreto e dos óbulos. Vamos caminhando, nos atrepando em árvores e rios, alpinistas de mutá, alcançado pouca coisa mais que a geometria curta dos dedos, mas sonhando extrair dali uma essência sublime para negociar a vida.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A uma moça sem dentes*

a Ocimar Leitão

Para onde foram os teus dentes de leite?

A fissura em teu peito me faz ver o destino do homem,

te conduziram a todos os lugares

em que eu não poderia ir.

E o segurança da festa

deixa-te entrar. Não é fascinante?

A moça desdentada chora em casa,

mal sabendo que é igual a todas as moças.

Rever o outdoor do Boticário,

um frêmito, vê as finanças,

é melhor não. Certo espectro vem-lhe noturnamente

e a faz sorrir com um riso negro.

A moça sem dentes tem seios bonitos

e o homem sem amor tem o sexo quente.

E eu que pensava que não existia mais poesia

vi um bebê azul nos braços da moça,

sem pai, mas feliz

mal sabendo que a vida é quimérica

e a sociedade é um organismo em decomposição.




*Do Deserto Provisório, livro no prelo, pro meio de agosto desse 2008, lançamento obscuro e limitado de poucos exemplares, anunciarei. O Manifesto da poesia acreana contempórânea...

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